27.5.07

O pesadelo do sonho europeu

Melilla, Setembro 2004. No perímetro da cidade alguns africanos tentam saltar a vedação que os separa do sonho europeu, uma noite como tantas outras neste enclave, mas inesquecível para Ibrahim Bertrand. A dor provocada por uma bala de borracha que o atingiu junto ao olho esquerdo, fê-lo esquecer momentaneamente o misto de medo e excitação por pisar, pela oitava vez, solo espanhol.

Ceuta, Setembro 2005. Os subsarianos que tentaram saltar a cerca fronteiriça de Ceuta, viram-se cercados entre balas de borracha disparadas por polícias espanhóis e disparos procedentes da polícia e exército marroquino. De acordo com a Euronews, Espanha e Marrocos trocam acusações quanto às causas da morte dos imigrantes ilegais. “Madrid afirma que as autópsias feitas aos mortos do lado espanhol da fronteira revelaram ferimentos com bala real, munição de que os militares espanhóis em patrulha não dispõem. Na fronteira marroquina, onde foram recolhidos os outros cadáveres, uma fonte oficial disse que os ferimentos mortais foram causados por balas de borracha e negou quaisquer disparos.”

Nas últimas semanas, a tentativa de centenas de africanos para entrar em solo europeu, através das cidades autónomas espanholas de Melilla e Ceuta, resultou em pelo menos 11 mortos. Numa tentativa para travar o fluxo de imigrantes, o governo espanhol prometeu intensificar esforços, nomeadamente com a elevação da vedação nos postos fronteiriços para uma altura de seis metros e com o envio de mais tropas para ajudarem a patrulhar a área. Por seu turno, a Comissão Europeia já disponibilizou 40 milhões de euros ao governo marroquino para reforçar medidas policiais e de protecção de fronteiras.
A ONU manifesta-se perante estes acontecimentos através da elaboração de um relatório onde reconhece o direito “soberano” dos Estados de impedir as entradas não autorizadas, mas alerta para o facto de que uma política “meramente restritiva das migrações ilegais não é desejável nem realizável”, porque pode “comprometer os direitos dos migrantes e dos refugiados”.

A bala que levou Ibrahim a ficar sem olho, foi, segundo o próprio, disparada pela Guardia Cívil espanhola, que o transportou de seguida, para o Hospital de Melilla. Devido à gravidade do ferimento, foi transferido para o Hospital de Málaga. "Ali soube que ia ficar sem olho e como não havia solução", conta, "pagaram-me o bilhete de avião para Melilla e levaram-me para o CETI [Centro de Estancia Temporal de Inmigrantes]".

Várias organizações não governamentais (ONG) têm vindo a criticar a força usada contra os africanos que tentam chegar à Europa através destes dois enclaves. O MSF constata que o aumento do fenómeno migratório tem sido acompanhado por uma escalada de violência empregue nas medidas destinadas ao seu controlo. Esta mesma organização comunicou recentemente a sua consternação, sublinhando que a prática de violência e de tratos degradantes aumenta o sofrimento e marginalização das pessoas que, ao procurarem uma vida melhor, se expõem a condições de subsistência e precariedade extremas, muitas vezes inumanas.

Camarões, Setembro 2000. Ibrahim Bertrand, tem 18 anos de idade, trabalha com um salário mensal de cerca de 150 euros. É a condição de pobreza em que a família vive que o leva a pedir aos pais que o deixem tentar encontrar "uma vida melhor, fora de África”.
Em Outubro 2000, com mais quatro amigos resolvem partir com destino a Melilla. Alugam um táxi que os leva até à Nigéria, e um outro até Níger. Ali chegados e com a Líbia pela frente, tiveram de alugar um jipe "suficientemente forte para atravessarem o deserto". Abasteceram-se, depois, com "40 litros de água, biscoitos e bananas". O dinheiro começava a escassear e por essa razão, conta, "dois dos nossos amigos tiveram medo e resolveram voltar para trás”. Persistentes continuam, mas à medida que avançavam a viagem complica-se. Foram assaltados por "pessoas do deserto", que levaram o pouco dinheiro e mantimentos que tinham e, mais tarde, a falta de água acaba por matar um dos amigos.

Já na Líbia, reduzidos a um grupo de dois e sem dinheiro, Ibrahim e Simon, acabam por ficar em Tripoli durante mais de dois anos a transportar carga para navios, sempre que a empresa os chamava. Recebiam cerca de oito euros por um dia de trabalho e juntavam tudo o que podiam para prosseguir viagem. “Morávamos juntos, mas a vida era muito, muito difícil… as condições eram péssimas… trabalhávamos sob um sol escaldante e comida boa só havia para quem tivesse muito dinheiro”.
Quando entre os dois conseguiram juntar 400 euros, alugaram um outro táxi e partiram para a Argélia. Chegam passado um mês a Oran onde se separam. Simon, na altura já com 18 anos, quer tentar a sua sorte no mundo do futebol desta cidade argelina – “o meu sonho é ser um grande jogador", explica. Ibrahim, mesmo depois de dar conta que tinha perdido o seu passaporte segue viagem para o norte de Marrocos, com destino à cidade autónoma espanhola de Melilla.

“Vivo durante a noite, de dia escondo-me”.
Em Nador, cidade vizinha de Melilla, conta que “tentava todas as noites passar a fronteira”. Por sete vezes conseguiu pisar solo espanhol mas a Guardia Cívil acabava por o apanhar entregando-o à polícia marroquina. Uma dessas vezes, conta que a polícia marroquina o deportou para a Nigéria “não tinham dinheiro para me levar até ao meu país", explica. Depois, "por sorte” chegaram à Argélia durante a noite "e eu consegui fugir dos polícias na fronteira". Acrescenta com um humor prático: "é que é difícil ver um preto à noite ".
Do lado de Marrocos, em Saidia encontra mais subsarianos "de várias nacionalidades" e juntos, "sempre durante a noite", frisa, fazem a viagem até Nador pelos seus próprios pés. Sem dinheiro e sem trabalho, Ibrahim diz ter sobrevivido durante os 15 meses que passou naquela cidade e arredores, graças à ajuda dos marroquinos, que numa área dentro de uma mesquita, albergavam alguns africanos a quem davam água e comida.

Resistência, persistência e fé em Deus

Melilla, Maio 2005. Passaram já oito meses desde o momento em que Ibrahim e mais tarde Simon – que deixou a Argélia passados um meses de lá viver – conseguiram dar o salto de África para a Europa.
Sentam-se à mesa de costas para as montanhas marroquinas Gurugú, para ambos um lar de "más recordações". Em breve o jantar será servido.
"As coisas no CETI estão mal", dizem. "Há muitos, muitos problemas", repetem vezes sem conta. "Os argelinos estão em greve de fome há três dias". Dizem que o que eles querem é o que todos esperam conseguir: um documento passado pela polícia que lhes permite sair de Melilla para a Espanha continental, o chamado Laissé Passer.
Os emigrantes que vivem no CETI de Melilla, se não forem entretanto repatriados ou simplesmente deixados no lado marroquino de Melilla, podem lá ficar meses ou mesmos anos à espera do desejado documento. “Melilla é muito perigosa e por causa do meu problema no olho acham que falo demais”, comenta Ibrahim. Diz que o processo de selecção dos imigrantes a atribuir o Laissé Passer parece-lhe aleatório, mas que "se calhar é mais fácil para os imigrantes que chegam de países com quem a Espanha tem boas relações".
A comida chega entretanto à mesa e fala-se de religião. São os dois cristãos, mas em francês Ibrahim tenta explicar a Simon que os europeus não são tão crentes como os africanos. Simon concorda, mas continua a dizer que a sua existência, o ainda estar vivo após cinco anos de viagem, se deve a Deus. "Quando passei a vedação de Melilla", conta, "estive escondido da polícia num arbusto durante sete dias sem comer, nem beber. A Deus devo a minha sobrevivência e a Deus devo também esta refeição".

O CETI tem regras rígidas e às 10h da noite têm que lá estar. Levo-os de carro. Segundo Ibrahim, todos os imigrantes que chegam ao Centro de Estancia Temporal de Inmigrantes são primeiro entrevistados, depois identificados. "Tiram-nos impressões digitais que são mandadas para todos os países da UE", esclarece que é para a polícia saber quem são, caso provoquem problemas. Explicam-lhes depois as regras do Centro e é-lhes atribuído um cartão de identificação e um quarto que por norma dividem com mais sete pessoas. "Quando saímos", dizem, “temos que fechar tudo num cacifo para não sermos roubados". Mas se há quem saia para o centro de Melilla, numa tentativa de fazerem algum dinheiro com pequenos "trabalhos", outros há que têm “tanto medo que ficam sempre no CETI. Dormem o dia todo”, esclarece Ibrahim.
Durante o dia vêm-se os imigrantes nas ruas principais da cidade a ajudar os condutores de carro a estacionarem ou a saírem de um estacionamento – o trabalho mais comum e a que chamam tira-tira, – lavam carros, levam as compras das pessoas do supermercado até ao carro, ou dos carros para casa, limpam escadas de prédios, carregam móveis em mudanças e outro tipo de pequenas tarefas.

Mesmo este tipo de “trabalho” que fazem não é fácil. Enfrentam atitudes racistas por parte de marroquinos. Assisto a um episódio mesmo em frente a casa, onde vários imigrantes se encontram no seu tira tira diário. São quase seis da tarde e um marroquino alcoolizado ziguezagueando em direcção a um imigrante grita-lhe em espanhol: “Dá-me o teu dinheiro”. O subsariano tenta ignorá-lo, mas ele aproxima-se cada vez mais falando ainda mais alto: “Isto é Marrocos o que é que fazes aqui?, vai para África”. Não tendo a atenção pretendida começa a afastar-se, mas sempre a gritar: “Vai para o teu país preto que isto é Marrocos".

"Eu tenho vergonha de fazer este trabalho de tira tira", diz Ibrahim. "A maior parte das pessoas nem olha para nós". Conta que "ainda ontem" lhe deram cinco cêntimos, "isso não é dinheiro… os camaronenses são limpos e precisamos de comprar roupa", desabafa.

Em média, conseguem fazer três euros por semana, mas dizem que "se um marroquino lava um carro pagam-lhe quatro, cinco euros, se for um moreno, pagam um euro".
Conta ainda que à noite há marroquinos à espera que os imigrantes façam o seu caminho de volta ao Centro para lhes roubarem as moedas que fizeram durante o dia no tira tira ou outros trabalhos ocasionais, “às vezes ameaçam-nos com navalhas”.
Pergunto a Ibrahim, se depois de todas estas dificuldades pensa em voltar para os Camarões. “Só para visitar a família, não tenho lá trabalho”, diz, acrescentando que o objectivo dele é chegar à “verdadeira Europa”, arranjar trabalho e tirar um curso superior. “Depois quando tiver dinheiro, vou mandar vistos para os meus irmãos para também eles poderem estudar na universidade”.

Todos os meses centenas de africanos arriscam tudo o que têm na esperança de encontrarem um futuro melhor. Todos os anos centenas, talvez milhares, se afogam nos mares do sul da Espanha. Outros morrem de frio, de calor, de sede ou de fome durante a grande viagem para atravessar o deserto do Sara. A costa de Espanha é fortemente vigiada, assim como os enclaves espanhóis de Melilla e Ceuta que contam ainda com cercas duplas de arame farpado que, em princípios de 2006, terão seis metros de altura em todo o seu perímetro. Mesmo assim todas as noites haverá pessoas, suficientemente persistentes a tentar escalar as barreiras. Aliás, e como ficou provado na noite de 2 para 3 de Outubro em Melilla, centenas de imigrantes tentaram de novo saltar a vedação e fizeram-no, desta vez, na parte em que a cerca tem já os seis metros de altura.

À semelhança de países europeus que tiveram colónias em África, também Portugal – que através da expedição a Ceuta, conquistada por D. Henrique, tornou-se o primeiro país europeu em Africa – esqueceu a responsabilidade histórica para com “estes irmãos africanos”, adoptando uma atitude passiva perante tais acontecimentos. Diversas organizações de Direitos Humanos acusam a União Europeia de ferir convenções internacionais. “ A Europa fechou completamente a porta à imigração e contrata com os governos que não respeitam os direitos humanos o papel de polícia”, acusa Miguel Portas que integrou o grupo de eurodeputados do Grupo Parlamentar de Esquerda Unitária que se deslocou a Melilla para analisar a situação dos imigrantes ilegais e visitar campos de refugiados.

O relatório elaborado pela ONU alerta ainda para o “papel dos migrantes na luta contra a pobreza”, referindo que as transferências de fundos para países pobres ultrapassa os 150 mil dólares por ano. Isto é, três vezes mais o montante da ajuda oficial ao desenvolvimento.




Isabel Abreu

Hoje em Bagdad

Bagdad-Iraquianos observam carro destruído por ataque aéreo realizado pelo exército americano em Bagdad Khadim-Reuters

DON'T LET GO

Para Catherine (Buenos aires) Me gusta Pacha :)

Silencio//Techari

Sporting vs Belenenses 20Maio07

No momento em que o FC Porto celebrava mais um título de campeão nacional,em Alvalade celebrava-se o "ser sportinguista". Arrepiante..

26.5.07

Governo Venezuelano e a Radio Caracas Television




Caracas-A 28 de dezembro de 2006, poucos dias depois da sua reeleição, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, fez um anúncio surpresa, ainda que não totalmente inesperado.



"Não será renovada a concessão para este canal golpista de televisão que se chama Radio Caracas Televisión (RCTV)", palavras que Chávez usou, para anunciar que um dos meios de comunicação mais críticos ao seu governo, sairía do ar.

Caracas-Primeira televisão a chegar a casa dos venezuelanos, prestes a fechar. Manifestantes pro-Chavez apoiam a decisão de encerramento do canal.




Iniciou-se nesse dia, uma batalha jurídica e mediática, cujo momento decisivo deve acontecer no próximo dia 28 de maio, quando expira a concessão para explorar o canal 2 UHF, que a RCTV detém há 53 anos.



A RCTV é o canal privado mais antigo e de maior audiência da Venezuela.
Para substituir o canal, vai entrar no ar a Televisora Venezolana Social (TEVES), recentemente criada pelo governo para ocupar esta frequência, com uma programação classificada como de "serviço público".



"Dano ao país"
Acusou inicialmente Hugo Chávez que a RCTV seria uma estação "golpista", o presidente do governo partiu para outros argumentos, dizendo que não se trata de um "encerramento", mas apenas de uma retirada da concessão, que de acordo com a Lei das Telecomunicações, é uma prerrogativa do Executivo federal.



Hugo Chávez: "Este canal de televisão já causou muitos danos ao país"





"Esse canal já provocou muitos danos ao país, durante muito tempo: os valores negativos, o bombardeio mediático de violência, o ódio, o racismo, o sexo mal visto e mal entendido, o desrespeito às mulheres,às crianças, o desrespeito às muitas manifestações da vida social, aos homossexuais, ao país e ao mundo e às pessoas que tem alguma deficiência. Essa é a razão de fundo", afirmou Chávez.


O ministério da Comunicação e Informação publicou um dossier que ganhou o nome de Livro Branco da RCTV, no qual há uma série de acusações contra a emissora, que vão desde suspeitas de promoção da violência, até maus tratos contra funcionários.

Caracas-Estudante durante um protesto em Caracas, contra a decisão do Governo de Hugo Chávez, de não renovar a concessão de uso de frequência que a operadora RCTV usava desde 1954


Os porta-vozes oficiais argumentam que ainda assim, a RCTV vai poder continuar a funcionar, embora o presidente Chavéz tenha chegado a levantar a possibilidade de tomar o património da empresa para a nova TV pública criada pelo governo.



"A RCTV poderá continuar a transmitir via satélite ou por cabo. Esse é um direito deles e que ninguém vai negar", afirmou o ministro da Comunicação e Informação, William Lara, numa entrevista à TV estatal.



As pesquisas indicam que 80% da população está contra a retirada da RCTV do ar, números que o governo classifica de "irreais".



Mas não seria a liberdade de expressão e sim a liberdade de escolha a grande motivadora da desaprovação popular à medida.



"O que as pessoas dizem é que não vão mais poder assistir a uma telenovela da RCTV, ou ver a Rádio Rochela, que é o programa de humor mais clássico da Venezuela, ou ao programa Quem Quer Ser Milionário", diz o director da instituto de consultas de opinião Datanalisis.



Segundo as conclusões do instituto, o grosso dos telespectadores não entende porque é que este conflito entre o governo e os media tem que afectá-los ,já que o grande problema é a linha editorial dos programas matutinos de opinião que, ironicamente, têm uma das audiências mais baixas da emissora.

Imagem da Semana

Criança palestiniana corre após explosão de míssil israelita numa área próxima à base do Hamas, em Nusseirat, na faixa de Gaza.
Israel realizou novos ataques contra supostas instalações do Hamas, neste sábado, na Faixa de Gaza, matando pelo menos cinco militantes do Hamas e deixando diversos civis feridos.

24.5.07

3,99

Montra de loja chinesa? Mini-prato? Promoção fantástica de um hipermercado? Também, mas não só. É o valor da dívida de uma mulher de 70 anos acusada de furto e levada a julgamento nos juízes criminais do Porto. A matéria é "suficientemente grave" para ir a julgamento, entendeu o MP. O processo remonta a Outubro de 2005.
A septuagenária, depois de uma consulta, foi apanhada pelo segurança de um supermercado. Depois de devolver o objecto e passados 14 meses recebeu a acusação do MP do Porto.
Os juízes do Tribunal da Relação do Porto, num processo similar,onde se julgava o furto de uma embalagem de queijo, no valor de 1,29 euros, disseram que um valor desprezível era apenas o furto de “um palito, um alfinete, um botão, uma folha de papel, um grão de milho ou um bago de uva”. Nesse processo entenderam, que a embalagem de queijo não podia ser comparada a nenhum desses objectos, não podendo ser o valor apelidado de “desprezível”. Revogaram a decisão de um juiz da primeira instância, que considerara que o processo não tinha dignidade para ir a julgamento, por o valor em causa ser “inferior às gorjetas dadas em restaurantes e aos arrumadores de carros das grandes cidades”. Os desembargadores da Relação do Porto disseram que não. Asseguram, Portugal ainda é um “país rural”. Bravo.

Não vou abordar as já rebatidas custas judiciais, só em fotocópias, ultrapassam certamente o valor do "creme de beleza", o número de pessoas mobilizado para o caso(funcionários, procurador, juíz), a falta de dignidade de duas grades de vinho à pressão da Mealhada, o número de processos pendentes em 1ª Instância por situações idênticas, a Justiça em mora,pois afinal,as considerações dos nossos juízes falam por si e explicam o nosso Modus vivendi . Resta-me desejar a esta septuagenária, "Boa Sorte! Tudo de bom!".

16.5.07

Nova lei da nacionalidade

A nova Lei da Nacionalidade, Lei Orgânica n.º 2/2006, foi regulamentada através do Decreto-Lei n.º 237-A/2006 de 14 de Dezembro, entrando em vigor no dia 15 de Dezembro de 2006.

A principal alteração com a entrada em vigor da nova lei foi o reforço do ius soli como critério de atribuição e aquisição da nacionalidade de forma a prevenir a exclusão social. Quem nasceu no nosso país, nunca esteve noutro país, trabalha ou anda na escola no nosso país, não falam outra língua que não o português, como pode ser considerado imigrante?

A nova Lei ,no entanto não, confere a nacionalidade de forma automática a todos os que nasçam em Portugal. Seria um incentivo à imigração clandestina(reservas neste termo, imigração ilegal,ie, seres humanos ilegais?).O sistema continua a privilegiar o ius sanguini (na aquisição originária por filiação não há, praticamente, outros requisitos, enquanto que para o ius soli há normalmente a regra da legalidade dos pais) mas há um reforço significativo do ius soli, retomando tradição legislativa abandonada em 1981, paradoxalmente (ou não) quando Portugal se começou a tornar um país de acolhimento e não só de embarque.

15.5.07

Arguido

O processo penal visa descobrir se houve crime, quem o cometeu, punir os responsáveis de acordo com a lei penal. Um processo crime tem início com a queixa, a denúncia ou com o auto levantado pela polícia, a que se segue um inquérito, dirigido pelo Ministério Público, com a colaboração,nomeadamente da Polícia Judiciária, que procura recolher provas da existência do crime e da eventual responsabilidade do arguido. Durante o inquérito, o processo encontra-se em segredo de justiça, não tendo o arguido nem o seu defensor acesso ao mesmo, desta forma ignorando as provas recolhidas.
Findo o inquérito, o MP pode ordenar o arquivamento do processo ou deduzir acusação contra o arguido. A acusação deve conter uma descrição pormenorizada dos factos que são imputados ao arguido, bem como as disposições legais que os prevêem e punem.
A acusação é notificada ao arguido que pode ou nada fazer ou requerer a abertura de instrução.


Em termos práticos arguido, é o indivíduo sobre quem recai a suspeita(bastará assim uma simples denúncia para que alguém possa ser constituído arguído) ou que é acusado de ter cometido o crime e que é representado e defendido pelo seu advogado.

Segundo declarações do Bastonário da Ordem dos Advogados existem aproximadamente sessenta mil arguidos actualmente em Portugal. Quantos serão condenados? Uma parte ínfima.

Com a apresentação deste número urge relembrar no nosso país, o direito fundamental à presunção de inocência: O arguido presume-se inocente até estar condenado definitivamente (até ter transitado em julgado a sentença que o condenou, isto é, já não ser possível recurso).





6.5.07

Imagem da Semana

Photo: Jacques Nadeau
Paris - Dimanche soir à 20h, lorsque les premiers résultats annonceront le gagnant du second tour de l'élection présidentielle française. Qui?

Insanidade no arquipélago

Desde 1984 que Alberto João Jardim diz ser esta "a última vez". Três décadas de governação, de inaugurações, de fundos comunitários, de despesismo, de "obra feita", sem que ninguém tivésse a coragem de pôr um travão. Sócrates disse "basta", Jardim antecipou-se , vitimizou-se e submete-se ao escrutínio do povo madeirense.Apesar de saber de antemão que estas eleições são inconsequentes na relação financeira com Lisboa, Jardim aproveitou a ocasião para legitimar a sua contestação. Ganha as eleições, refaz orçamentos, reduz gastos na função pública, ganha mais dois anos, para preparar, finalmente, a sua sucessão, atirando as próximas legislativas para 2011. Do outro lado, Jardim terá um PS liderado por Jacinto Serrão, que obteve nas últimas eleições um bom resultado. O candidato socialista disse então que o PS ganharia as eleições em 2008. Mas estamos em 2007 e Alberto João Jardim pode reforçar a margem de vitória.

A campanha madeirense ficou marcada, (como se esperava) por variadíssimos episódios caricatos. Tiros de caçadeira, cartazes com poses absolutistas, inaugurações em contra-relógio com comícios de valores astronómicos, acidentes de trabalho (morte de dois operários na última semana), atentados à legalidade,queixas-crime,ofensas, insultos..deu para tudo. Factos a que o Presidente da República não atribui relevância e que remeteu as queixas do PS/M para a Comissão Nacional de Eleições «Todos sabemos que existem órgãos independentes a quem cabe acompanhar e fiscalizar os actos eleitorais», afirmou Cavaco Silva aos jornalistas, no final de uma visita ao Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM), em Lisboa. Esperemos pelos resultados e respectivas declarações. O dinheiro esse acabou.

3.5.07

Homens da Luta-Universidade Independente

"Dá-lhe falâncio!"

-Vai tudo abaixo II Série

Heróis do Mar-Supersticioso (tv-presidenciais 86)

Imagem do dia

James Estrin/The New York Times


A pro-immigration rally at Union Square on Tuesday. Immigrants and their supporters rallied across the country seeking a reduction in deportations and legalization for the estimated 12 million people said to be living and working in this country without proper documentation.

01/05/1886

Cartoon ,Maio de 2006 - Courrier International

O Dia Mundial do Trabalho foi criado em 1889, através de um Congresso Socialista realizado na cidade de Paris. A data escolhida serviu de homenagem à greve geral, que aconteceu a 1 de maio de 1886, em Chicago, o principal centro industrial dos Estados Unidos na época.


Milhares de trabalhadores manifestaram-se nas ruas de Chicago para protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos e exigir a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. Naquele dia, manifestações, protestos e discursos movimentaram a cidade. Mas a repressão ao movimento foi dura: houve detenções, feridos e até mesmo mortos nos confrontos entre operários e a polícia.


Em memória aos mártires de Chicago, às reivindicações operárias que nesta cidade se desenvolveram em 1886 e por tudo o que esse dia significou na luta dos trabalhadores pelos seus direitos, o dia 1º de maio foi instituído como o Dia Mundial do Trabalho.






Chicago, Maio de 1886

O retrocesso vivido neste início de século, remete-nos directamente para os piores momentos dos primórdios do Modo de Produção Capitalista, quando ainda eram comuns práticas ainda mais selvagens. Não apenas se pretendia alcançar a mais-valia, através de baixos salários, mas até mesmo a saúde física e mental dos trabalhadores estava comprometida por jornadas que se estendiam até 17 horas diárias, que era comum nas indústrias da Europeias e dos Estados Unidos durante o século XIX.


Férias, descanso semanal, reforma? Não faziam parte da realidade da época. Para se protegerem das adversidades, os trabalhadores inventavam vários tipos de organização – como as caixas de auxílio mútuo, precursoras dos primeiros sindicatos.
Com as primeiras organizações, surgiram também as campanhas e mobilizações reivindicando melhores salários e redução substantiva do período laboral. Greves, nem sempre pacíficas, explodiam por todo o mundo industrializado. Chicago, um dos principais pólos industriais norte-americanos na época, também era um dos grandes centros sindicais. Duas importantes organizações lideravam os trabalhadores e dirigiam as manifestações em todo o país: a AFL (Federação Americana de Trabalho) e a Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho). As organizações, sindicatos e associações que surgiam em catadupa eram formadas principalmente por trabalhadores de tendências socialistas, anarquistas e social-democratas. Em 1886, Chicago foi cenário de uma intensa greve operária. À época, Chicago não era apenas o centro da máfia e crime organizado, era também o centro do anarquismo, com importantes jornais operários como o Arbeiter Zeitung e o Verboten, dirigidos respectivamente por August Spies e Michel Schwab.
Uma manifestação pacífica, composta por trabalhadores e desempregados silenciou momentaneamente tais críticas, embora com resultados trágicos a curto prazo. No alto dos edifícios e nas esquinas estava posicionada a repressão policial. A manifestação terminou com um ardente comício.